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Segundo Blog em Sou uma Cyborg - Ouvido Impantado

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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Eu e o Implante Coclear


Tenho uma coisa dentro de mim, não é uma coisa qualquer… esta coisa é adorável, faz-me interagir nas brincadeiras a pescar inúmeros sons invisíveis, no entanto coloridos e brilhantes que me causam cócegas e é tão bom ouvir!

Não me soa nada robótico, é quase perfeito e muito próximo do real, clara e agradavelmente surpreendente – sons que banham o meu Ser de forma inigualável.

Tenho uma coisa dentro de mim,
mas não uma coisa qualquer!
Esta coisa é adorável,
tem nome único,
Sun Melody

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

6º Afinação II


Depois de ter feito a afinação, fui fazer audiometria pela segunda vez com o Implante Coclear, sentei no meio de duas colunas gigantes que se escondiam atrás de mim – bastava levantar o braço em cada som produzido, seja agudo ou grave.

O P. assistia assombrado, a me observar em cada mão erguida ao tecto, sinal de que ouvira, ficou momentaneamente incrédulo a tentar escutar também determinadas frequências.As feições do seu rosto interrogavam a eficácia do Implante Coclear, e riu-se com o Técnico J.H. – estupefacto!

Estavam a rir do quê? Não fazia ideia! Entretanto, lá continuei a finalidade do exame e á posteriori deu-se por terminado. A impressora esculpia o gráfico no papel em tinta, e fazia um barulho atinado a ecoar na sala. O P. finalmente explica a razão das gargalhadas “tu ouves melhor que eu agora, houve frequências muito baixas que nem consegui captar!” pensei para mim: “não me digas, estás a ficar surdo?”

Desejosa, em ter os resultados á mão, a minha visão alucinada lera os aspectos gráficos, primeiro em decibéis e depois as frequências, o meu pensamento entrou em ebulição “Como é possível? Como é possível? Mas como é possível o Implante Coclear fazer uma enorme diferença?!” e “Nunca tive tantos decibéis em toda a vida depois de Surda!”.

Dos 40 a 30 decibéis para os 30 a 20 decibéis.

Tenho ou não razões para sorrir?

domingo, 24 de fevereiro de 2008

6º Afinação I


Do outro lado de cá, em Coimbra não choveu como nos últimos dias, e a meteorologia tinha alertado uma possível tempestade, foi portanto uma previsão errada e esteve um lindo dia de sol!
Desta vez, acompanhada com o namorado entre sorrisos e cumplicidades, a boa disposição reinava com o cansaço e o dia estava longe de ser terminado. Fui capaz de abraçar a cidade, cheirá-la e a pensar como é possível ainda cá vir em dias onde não haja chuva? Desde a primeira consulta, no Hospital dos Covões não senti sequer uma gotinha de água a fluir sob a minha pele, vai fazer quase um ano.

Chegámos, subi para o primeiro piso e vejo pessoas sentadas, desconhecidas para mim, nunca antes os tinha visto. Viro á esquerda, a porta da sala de afinações está aberta e avisto o J.H concentrado para os montes de papéis ordenados na sua secretária. Fico pensativa, se devo ou não bater á porta chamando-o atenção da minha chegada, no preciso momento em que estava prestes a virar, chamou-me para entrar.
Chamo o P, como sempre silencioso e super atento. Retiro o processador de fala, abro-o em metade, entrego ao J.H para conectar ao cabo de programação do computador com o novo software.

Diz ele: “quando ouvires os apitos mesmo baixinhos, diz-me.”, e respondi: “sim” é a mesma rotina desde a activação. Já nada me admira, sei-os de cor. Apito baixo, apito alto, apito muito baixo, apito ali e acolá de vários timbres e intensidade, mais tarde igualar os apitos altos com os baixos, de forma serem moderados.

O Técnico J.H ligou o Sun Melody e em apenas um minuto verifico diferenças, já nada é o mesmo, ficou substancialmente alterado, e não gosto do novo ajuste, preferia o antigo pois o meu cérebro estava domesticado. Pergunta-me, se quero baixar o volume, digo que sim um pouco.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O Som da Àgua


Ali, os céus rompem o vento com trovoadas. Uma carga de chuva incontrolável cai e deambulam impacientes na estrada, estou no quarto á janela e fico surpreendida com o que vejo, a água corre como um rio contínuo, atropelando enormes poças de água.

Fiquei ali, a olhar para a tempestade e ao mesmo tempo a ouvir os pingos de diamantes a beijar o solo, mais uma vez fui apanhada desprevenida ao observar que as portas da janela estão fechadas, não existe nenhuma corrente de ar.

Até se escuta cá dentro, o som é capaz de me convencer que agora tenho algo de tão influente a exercer na minha vida. Limito-me fechar os olhos, porém outro timbre insiste cursar no meio da chuvarada, são sirenes insistentes de um carro polícia ou ambulância.

Não vejo nenhum veículo a passar. Deve estar em algum lugar perto.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Amar

(Art By Memorex)
Estou incuravelmente apaixonada, por isso não tenho sono nenhum, com os olhos bem abertos e o ouvido implantado a tentar captar os movimentos da noite, só ouço o ventilar introduzido do computador mas não deixa de ser som.

Simples carícias que correm descalças nas paredes da minha cóclea, impulsionadas pela estimulação eléctrica agarram ao volante com muita vontade de encontrar um lugar, o nervo auditivo para ali poderem bailar uns quantos mexericos dentro do meu cérebro que nem adolescentes embeiçados um pelo outro.

Amar os sons, é o mesmo que amar a própria vida. E o amor deixou um cheiro profundo, basta-me sentir e apreciar todas as tonalidades, que existe e está mesmo ali a todo o instante penetrantemente enraizado. Amo-te simplesmente.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

È Segredo!


Não digam a ninguém, que é segredo, estou a ouvir a minha irmã no quarto a tocar maravilhosamente o instrumento de sopro: Saxofone! Mil sorrisos e melodias, arte e ciência que abraçam suavemente no meu ouvido implantado...

Fazer o Implante Coclear valeu a pena, agora existe mais cor na minha vida e o segredo foi revelado.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Frase Completa Decifrada


O mundo continuava á roda, sons belos, sedutores, graciosos e também desagradáveis, irritantes e enfadonhos. Partimos para uma aventura inacreditável, o nunca antes experimentado e senti-lo de forma esplendorosa cada descoberta outrora inatingível.

Os meus dedos carregavam os botões do Mp3, ávidos de saber o funcionamento, o pedaço que me faltava ser perita para gravar, o pedaço que o diapositivo tem. Assim passei da teórica para a prática, com a minha mãe ao lado retirei a bobina na força do íman e premi o tal botão adicional do Mp3 sem a olhar enquanto soletrava uma frase elaborada e bastou um leve toque no meu ombro para clicar no “off”.

Fiquei ansiosa, por descobrir o que continha a frase oculta, num impulso nada vacilante endireitei a bobina que abraçou com força ao chip, um simples sugar magnético e a voz do corpo que me deu a luz, ressoava no órgão do sentido de audição implantado com o charme do timbre feminino e acolhedor.

Sinto a beleza das palavras fonéticas a entrar em mim, o cérebro tenta descodificar e assimilar a linguagem materna, no entanto ainda não conhece. Está a fazer um esforço enorme, de saber que palavra é, e a vergonha do silêncio cai por terra cada vez que clico no mesmo botão a escutar vezes sem contas, um acto repetido.

Um alerta laranja, passa por uma porta onde está localizada a memória auditiva, e lê uma mensagem registada: “EU VOU…”, paro e rebobino para trás, seguidamente para frente durante cinco minutos capto: “PARA…” mais tarde milagrosamente com dificuldade entendo: “A CASA”

“Eu vou para a casa” - a minha mãe olhava para mim a sorrir - "é isso mesmo filhota!"

Decifrei pela primeira vez uma frase completa no MP3!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Memorex! Memorex! Memorex!


No último dia da faculdade que antecederam as férias do Carnaval, assisti a aula de Layout na parte de manhã, os computadores estavam ligados e dentro da sala fazia um eco amiudado no meu ouvido implantado.

Os colegas, dialogavam uns com outros, eu permanecia concentrada frente ao monitor a trabalhar no InDesign, ao mesmo tempo as suas vozes embalavam por mim indomáveis nos pequenos intervalos de risos. Como foi tão bom escutar! Saborosas gargalhadas…

Embeiçada na minha criatividade, dispunha as ferramentas com tal precisão, cativada por uma ideia iluminada a figurar no projecto, no meio de tudo ouço: MEMOREX! Parei de imediato, alguém tinha chamado, revirei tantas vezes á procura de quem me invocou… pensei que a mente estivesse a pregar alguma partida. De novo concentrada, uma voz seca e disparata emerge: MEMOREX!

Fiquei a matutar, intrigada na certeza de que uma pessoa gritava pelo meu nome, uma colega olha para mim e eu também, franzo as feições do meu rosto de estranheza, um ponto de interrogação paira pelo ar e uma neblina obstinada aquece o ambiente sonoro. Nada!

A mesma voz masculina manifesta, eu rapidamente viro de realce a cara e fico espantada a reflectir na figura do professor com a mão a acenar, gestos como que dizendo “olha, anda cá!”… dialoguei oralmente: “ah então era você que me chamou por três vezes?!“
Ele sorri, e disse: “pois, ora chamei-te três vezes para ver se estavas de facto a ouvir! Surpreendeste-me pela positiva, no ano passado não escutavas rigorosamente nada com o outro aparelho!”.

Afinal, tinha ouvido o meu nome a triplicar.