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Segundo Blog em Sou uma Cyborg - Ouvido Impantado

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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Fogo-de-Artifício

Um calor que dilatou de manhã espreitara Abril, ainda á distância do anoitecer. Mais uma viagem saturada de surpresas sonoras por mim inimagináveis, absorvida na chiada ininterrupta da capital, apetece-me acelerar tão apressadamente no ar poluído e escutar a brisa que acaricia o processador de fala, onde a melodia rodopia dentro do ouvido implantado e as lágrimas afortunadas banham o meu Ser.

È de noite, e não estou só, bem acompanhada e com amor, segura com aquele que pinto o mundo há longos anos, ambos felizes. Ponto de encontro no Macdonald's, pessoal agrupado, saudades, muitas! Jipe lotado, namorado e amigos. Risos e conversas.

O caminho levou-nos a Almada, Parque da Paz, 23h10, falta 40 minutos para o fogo-de-artifício e fico a pensar deambulando de um lado para o outro, andámos de mãos dadas, o calor dele a flutuar em mim e os avisos "Prepara-te, vais ouvir muito alto", questiono "É assim tão alto como afirmas?"

Estamos a 500 metros do sítio em que os foguetes serão lançados, muita gente, parecemos uma colónia de formigas. As palavras enroscavam-me timidamente, a reforçar as tentações de evitar-me a tirar o Implante Coclear, assim as descobertas estavam prestes a deixar o registo precioso… primeiros foguetes PUUM PUUM PUUM, não foi tão drástico como julgava.

Os próximos, foguetes expulsos serpenteavam na imensidão do azul infinito, fiquei imóvel, pasmada, outro som desconhecido, nova descoberta! Fabuloso!!! Colori novamente o mundo dos sons em mim, é tudo mais real e diferente do aparelho auditivo.
Nos últimos 5 minutos, foi talvez o som mais retumbante de toda a minha vida, não aguentei tanta emoção, fiz muita força para resistir ao barulho triplicado, PUUUM PUUUM PUUUM, uns segundos, PUM PUM PUM PUM e todo o meu corpo vibrou junto daquele que dei o toque do primeiro olhar e beijo, ele é a minha linguagem do amor, e às vezes fechava os olhos, tentava tapar o ouvido implantado.

Bombástico, retirei o Implante Coclear do lugar! A explosão de cores continuou, verde, vermelho e doirado em traços elegantes. O meu mundo sonoro ficara maravilhado, assombrado, foi sem dúvida um espectáculo!

sábado, 26 de abril de 2008

terça-feira, 22 de abril de 2008

Ouvir Devagar

Escutar as palavras, soletrar correctamente, abrir a boca. Ver e ouvir, esforçar. Posições da lingua, depois as letras chegam naturalmente.

Ouvir devagar...

domingo, 20 de abril de 2008

Chuva Congelada

Acordei cedo, eram 8h diante do micro-ondas, primeiro, muito vento e chuva, a curiosidade transformara em melodia.
O cair da chuva. Maravilhoso. Emocionada, como é tão bom ouvir gotas de água a explodir em pedaços líquidos nas persianas da cozinha, de repente surge um som estrondoso, arrepiante e irreconhecível, dá-me calafrios.

"Que som é este? Não conheço…"

O desejo em descobrir esta preciosidade, foi mais forte que os meus medos enfadonhos, afasto os cortinados e ei-los: granizos, chuva congelada durante 5 minutos.

Mais um, no meu baú de sonoridades descobertas, e a aventura continua.

sábado, 19 de abril de 2008

Sábado Embriagado

A chuva colide violentamente o vidro da janela quadrada do escritório com cheiro a tinta, segundos depois pára de chorar. È a vez do vento, cantar… agora chove intensamente e a melodia cerca-me no ouvido implantado.

Um concerto da chuva.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Jogo de Futebol

Impróprio para cardíacos, não assisti o jogo na televisão a Taça de Portugal de Sporting - Benfica, passei a noite frente ao computador a trabalhar. Tenho no meu prédio, vizinhos assumidos e ferrenhos benfiquistas… é certo logo na partida marcaram o primeiro golo, o edifício ecoou ao meu ouvidinho implantado, gritarias eufóricas como se fosse a final do Europeu, fiquei amuada e tinha esperança num empate.

Segundo golo do rival da 2ºcircular, FX%!sse que porcaria da Defesa! Acordem pá!! Mexe-te ó Veloso, cola-te ao Rui Costa!! O pessoal lá de cima, a fazer a maior barulhada da década com a vitória já no papo, os passos arrombavam, e tudo parecia estar perdido. Chegou o intervalo, é certo o Bento deve ter puxado os galões aos jogadores…

Eu, colada no ecrã descontraída dou um pulo ao ouvir o meu pai, e simultaneamente a minha irmã a clamarem GOOOOLO, levanto o rabo da cadeira vou correr para a sala, 1-2, conseguia pensar "só mais um! Só mais um golinho…" regresso ao escritório, passando 10 minutos GOOOOLO, assim continuadamente, no vai e vem. Os vizinhos calaram-se, silêncio, agora as nossas vozes vibravam em uníssono, um grande abraço melodioso.

Terceiro golo do Sporting! Eles, que se cuidem… não devia cantar tão cedo, senti-me de novo atropelada pelos berros, como se o mundo acabasse amanhã, os rugidos eram mais altos que nunca. GOOOOLO, o fio de vozes reconhecidas acariciaram as minhas células ciliadas, despertando o nervo auditivo de festejos contínuos…! Um remate certeiro e fora de área, Yannick Djló faz um golaço soberbo, de mestre!!

E agora? Andam todos caladinhos…

Que venha o FC Porto.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Stressada

Hoje, sim hoje mereço dedicar a mim, desligar-me de tudo… só por hoje, vou amar-me em silêncio. Irei fazer suar o meu corpo, reviver a paixão de correr, saltar e pontapear os aromas da juventude que muita alegria me deu enquanto atleta de alta competição. Hoje já não mais o sou, abdiquei desse grande amor para dar vida a um sonho elevado: o Implante Coclear, e não me arrependo pois estou a viver uma aventura aliciante!

Vou ali descarregar as baterias.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Metro de Superficie

Tinha chegado á estação de comboios em corroios, seguidamente governei os meus passos para apanhar o metro da superficie, o cansaço reinava em circulos endiabrados com uma variedade de conceber ideias criativas para um trabalho de Infografia.

Tentava a muito custo afastá-los dos neurológicos, e quando dei por mim sentada na carruagem com o bilhete á mão, absorta em redor, o metro já estava em andamento... procurava a carteira dentro da mala e eis de repente, apanho uma frase auditivamente no meio de diversos ruídos não muito altos "Casa do Povo"... sobressaltei estupefacta!

E para ter a certeza, coloquei o meu raio de visão no ecran de caracteres encarnados, lá estava "Casa do Povo", sorri para dentro de mim, mais uma conquista.

domingo, 13 de abril de 2008

Activação da S. e o meu Reajuste

A manhã começou caótica, não senti o raio do telemóvel a vibrar e quando olhei para as horas balbuciei asneiras á toa: caraças, fónix, porra, estou frita até aos cabelos! Vesti-me num ápice, tão rapidamente que deixei o pequeno-almoço de lado, não podia perder mais tempo por causa da hora de ponta.

Sempre a olhar para o relógio de pulso, havia fila na auto-estrada da Ponte 25 de Abril, mandei uma sms á S. explicar o sucedido, até lhe propus para ela apanhar o Alfa-Pendular das 07h de forma chegar a Coimbra, a sua activação estava marcada para às 09h. Mas não, preferiu esperar por mim.

No caminho para Santa Apolónia, encontrava-me em Cais de Sodré e de novo recebi a sms da S. “há outro comboio às 07h30, chegas a tempo?” só pensava “Bolas! È o dia mais importante da sua vida e eu atraso-me, fónix, fónix!”, entretanto os semáforos também não ajudaram nada! Sinal vermelho, sinal vermelho, sinal vermelho. Dois minutos para a partida do Inter-Cidades, saio do carro e corro que nem á Obiwelu… e vejo-a sorridente junto á caixa das bilheteiras, dois para Coimbra-B… gentilmente, o empregado repeliu “Agora? Já partiu há um minuto!”

Tarde demais! Amargurada e revoltada, peço á S. muitas desculpas pelo meu atraso inocente, havia o próximo comboio às 08h e lá pagamos as tarifas. Conversamos, ela tão bem disposta e bonita, optimista ao mesmo tempo notava-se uma certa ansiedade, e contara que tivera um pesadelo, tinha sonhado com tubarões! Fomos a um café ali, e vinte minutos passaram, mergulhamos adentro na carruagem do Pendular, instaladas confortavelmente.

Falamos e falamos, uma mistura de sorrisos e perguntas. O percurso foi veloz, parámos em Entrocamento e seguidamente Coimbra-B, o céu pouco nublado e o rosto da S. floriu a beijar estrelas com um encolher de ombros, impaciente e desejosa! Voamos de táxi, directas para a via rápida, mais adiante virámos á direita onde uma placa azul apontava “Hospital dos Covões”, curvas inclinadas e rotundas, ultrapassamos a Universidade de Medicina. Num declive ténue abeiramos junto á paragem de táxis, chegámos!

Cheira á terra molhada, primavera em Abril e escuto o delírio dos nossos corações, em silêncio encaminhamos ao edifício ORL, suspiros, ouço a melodia e são dos passarinhos a cantar, fico embevecida! Depois da recepção, subimos as escadas e vimos ambas os técnicos J.H e o J.P, os dois às gargalhadas numa atmosfera bastante descontraída.

Fomos interpeladas pelo J.H que trazia nele uma enorme caixa, era o Implante Coclear da S. nesse instante vinha o J.P na qual foi carregado em tratar o meu reajuste, a partir daí separei da S. que já se encontrava sentada na sala. Prontifiquei-me, retirei o processador de fala e poisei carinhosamente na palma da mão do J.P de modo ligar a um cabo principal da programação através do computador.

Apitos a vacilar dentro da cóclea, jogar á apanhada que nem uma criança traquina, ecoava ao meu nervo auditivo, muito baixinhos e agudos. Tantos e diferentes, intermináveis e desta vez demorou mais, feito o reajuste do Sun Melody fui para outra sala de audiometria acompanhada com o J.P a realizar um teste de reconhecimento de palavras. Fiquei de pernas a abanar, nervosa como costumo estar em provas e conferências importantes, o estômago a rodar mil voltas, só queria fugir dali… são palavras de duas sílabas, um diálogo simples falou o J.P em conformidade “mal entenderes a palavra dita, diz”, assenti num abanar de cabeça dividida em pensamentos, de como estaria a correr a activação da S. e concentrar duplamente na prova. Muito atenta, acertei 9 em 40 possíveis, nunca antes treinara essas palavras auditivamente, nada mau! Os adjectivos de duas sílabas são considerados as mais difíceis…

Terminado, aceleramos para o compartimento da S. e pingo vejo o seu Implante Coclear pendurado na orelha e não é o Nucleus Freedom, questiono e tento desesperadamente encontrar o nome do processador de fala dela, visualizo a caixinha é da Med-El Opus 2.O J.H explicava-lhe todos os procedimentos e cuidados, a manutenção do processador e diversas peças nela encaixadas, tão leve e fino, menos robusto que o Nucleus Freedom e ao virar para mim, respondeu “não dei pulo nenhum, é que estava a espera e nada”, “está muito diferente do aparelho auditivo”, “ele aumentou o volume três vezes, mas ouço baixinho”.

Saímos do consultório, depois de a S. ter tido dificuldade em colar magneticamente a bobina ao chip interno. Foi engraçado, mas lá se habituou. Já estava activada! A ouvir o mundo, tudo era novidade até o bater leve na embalagem de papelão, inocentemente fiz uma pequena experiência, acarinhei o chão com a sola do meu ténis que faz aquele barulho estridente e arrepiante… agarrou-se em mim, a perguntar: “ouviste? O que foi isto?!” eu só me ria feliz, era a prova viva de que escutara, só não sabia de onde vinha ou o que significava esse som.

Repeti o acto, os seus olhos iluminaram de surpresa! “A sério! È disto? UAU!” atónita, á posteriori deu um riso, ela ficara momentaneamente paralisada ao ouvir a sua própria gargalhada! Tendo inclusive “vou passar a rir baixinho, que engraçado! Estou a gostar…” a partir daí foi descobertas atrás de descobertas e esses sons eu já as conhecia de cor, foi tão bom vivenciar esses momentos com a S. porém a aventura estava longe do fim.

Fomos para a ala dos internamentos ambulatórios, fazer uma visita surpresa á Laura, também ela deficiente auditiva onde no dia seguinte seria operada para a retirada de dois safadinhos e daqui uns meses poder colocar o tão badalado Implante Coclear. Bolas, aquilo parecia um labirinto! Gostamos muito de a conhecer, muito viva e comunicativa, tão expressiva e um longo abraço perdurou-nos apesar de lá ficarmos pouco tempo.

Podia ouvir á sua volta, pássaros a piar e dentro da camioneta bailavam vozes, diferentes e únicas. A sua própria voz, até quase ia chorando de emoção, tal era a alegria, uma grandiosidade inimaginável, as portas a fechar-se e abrir, os passos, o travar dos pneus emitia um chiado agudíssimo… os apitos da estação, o auto-falante robótico, a máquina do café, o tilintar das moedas enfim muitos e muitos sons, uns altos e baixos.

Já enterradas de cansaço, no Inter-Cidades, ela pulou com o fecho automático das portas da carruagem, o barulho do papel de embrulho enquanto comíamos pão com chouriço! Levantou-se para ir ao WC, fiquei em mim a vaguear nas recordações á janela, de repente chega um comboio noutra linha em sentido contrário, um som estrépito e altíssimo irrompe-me, e regressa a S. “Ouviste?! Passou um comboio não foi? Fogo que altoooo!”

Hora de Chegada a Santa Apolónia, e nós FELIZES!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Coimbra à Vista!

A emoção em te abraçar novamente nas almas das coisas, inatingíveis. Respiro o teu ar mágico á chegada envolvida no chiado da estação e de passageiros numerosos, na maioria estudantes, executivos, advogados, turistas com mochilas às costas e máquina fotográfica. Não só, vai ser um dos melhores momentos capaz de eternizar as surpresas dos nossos sorrisos inigualáveis. Uma aventura e tanto!

A S. vai ser activada. Acompanhou todo o meu processo desde a operação, até ao dia da activação, sempre expectante nos meus progressos auditivos onde muitas vezes questionou sobre o que seria consigo. Amanhã ela vai descobrir a magia do Implante Coclear, o seu som e eu estarei ali a seu lado reviver de novo o encantamento, as lágrimas serão inevitáveis!

Nela, recordarei para sempre a minha activação, a mesma surpresa, o choque, a ansiedade endiabrada, um caos interior, as expectativas e a seguir uma felicidade desmesurada! Mal ela começar a ouvir o mundo real em tons, farei o meu 7º reajuste do Sun Melody!

Memorável.

Coimbra, até amanhã!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Yuipiiii! vs Ohhhh!

Os sacos de plásticos já não me incomodam como antes, e o papel ainda vai me submeter a um carregamento impedioso de tonturas! (como é que conseguem?!)

Até logo. Lisboa pega em mim, dá-me todos os teus cheiros e diz qual o caminho para Cais do Sodré apanhar o eléctrico rumo á Reabilitação Auditiva. Vou absorver-te, encher e matar a sede de todos os sons, uma porção indeterminada.

A fortaleza, o mais alto grau de perfeição que é meu, teu e nosso.

Sabores

Hoje ouvi passarinhos a cantar, sirenes de bombeiros á distância, o chiar dos pneus, obras e buzinadelas fugazes quando dirigia para a faculdade, e nada me assusta. Conheço os sons, e os meus sorrisos são aos milhões perante a sinfonia sacudida e desordenada da metrópole lisboeta.

Ruídos e palavras que ecoam dentro do meu sentir.