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Segundo Blog em Sou uma Cyborg - Ouvido Impantado

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terça-feira, 30 de outubro de 2007

30 de Julho

(Photo By Memorex)
Três meses de ti, de todas as semanas, dias e o mundo enchia de cores, andamos Sun Melody ás voltas por este país semi-explorado dos Sons, percorremos a estrada das melodias dignas de serem ouvidas e outras que deixam muito desejar.

Sons agradáveis e desagradáveis.

Abraças-me.
Sinto a magia dos sons.
Tudo correrá bem.
Eu sei.

Abençoada por ti Sun Melody.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

29 de Junho

(Photo By Memorex)
Hoje faz quatro meses, a realização e o sucesso imediato da cirurgia.

A felicidade existe, é extremamente comovente o som que tu escutas, dá-me um arrebatamento de renascimento e devolves a minha origem, o começo em que os meus ouvidos se formaram no ventre intactos.

Estou a pensar em entrar para uma banda de música, aprender a tocar clarinete. Sim, estou a pensar em tentar e porque não?
As possibilidades são infinitas!

Aqui vou eu - clarinete - inspirar na melodia do Jazz.

Sons agudos prestes a invandir, a mover o meu ouvido implantado cadenciadamente de forma suave e melódica, um canto afável tocando nos botões prateados, sentido-me embalada...

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Registo I


Fui a Coimbra e acompanhada com a minha mãe no Inter-Cidades, frio e muito nevoeiro á chegada, fiz a terceira afinação do meu Sun Melody com sorrisos aos molhos e acanhados por uma notícia inesperada da Dra.S. numa verdadeira cumplicidade, que me fez ficar com as bochechas rosadas.

Não sabia o que dizer.

Observação ao meu ouvido direito – o não implantado – Antibiótico e duas gotinhas durante sete dias.

Reencontros inesquecíveis, crianças implantadas com a tampa microfónica do processador de fala coloridas, a H e a M, mãe e filha. Um abraço sentido, um dialogo breve, o cansaço e a ternura receosa da M que mal se recorda de mim durante a estadia de internamento.

Cresceu!

Oh, como a M cresceu, uma menina de olhos profundos e perspicaz, cujas expressões ainda permanece dentro de mim. Pedacinhos de uma vida. Mais tarde, na sala da programação de Implantes Cocleares esclareci muitas dúvidas minhas, a inconfundível teimosia perante o técnico J.P.

O ajustamento de sons baixinhos deveras agudos. Já não é o mesmo. Evoluiu um pouco.

Volume alto, digo-lhe para baixar, cinco minutos depois, mordo o lábio inferior e peço para aumentar um pouco mais, ai a minha pancada. Ele sorri e eu também desastradamente.

Nota: dois meses e três semanas de activada.

domingo, 21 de outubro de 2007

Autocarro


Na primeira semana de activada, dentro da camioneta não conseguia ouvir o motor a chiar, ficava tudo silencioso, apenas um zumbido irritante vagueava na minha cabeça.

Hoje tudo modificou, um mês depois a impressão dera lugar a um ruído bem definido escutando a combustão interna do motor a estrondear, e um guincho muitíssimo agudo atormentava quando o compartimento das portas automáticas libertavam o ar, ouvia á distância os movimentos robóticos a reabrir e fechar.

Não sei como, mas gosto do barunho indescritível das rodas a ser travadas pelo motorista.

Sons verdadeiramente tocados.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Impressões Auditivas


Tambores, piano, violino, saxofone e orquestras instrumentais. Assobios, bola de futebol a circular sobre o alcatrão, o tum tum do telemóvel a chamar. Cadeiras arrastadas no solo. Uma pessoa a aparafusar o móvel de madeira.

A minha voz mudou, melhorou bastante e já não é mais aquele frenesim desesperante dos professores da faculdade, e entendo mais facilmente pessoas falando depressa, inclusive os meus colegas numa conversa divertida.

Os sons modificaram-se, e tenho neles uma profunda recepção auditiva estimulante.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Instantes


Foi uma bênção em de ter Sun Melody, estou de pijama e em frente ao computador, ouço os meus dedos a teclar nos botões e o sopro motorizado a ventilar, a minha família na cozinha onde escuto o tilintar dos copos dentro do armário e as vozes misturadas.

Agrada-me ouvir estes sons enquanto escrevo, agrada-me o barulho e torna-me tudo tão mágico com o escorrer da água na torneira aberta que me sussurra no ouvido implantado.

Sons eternos. Melodiosos.

domingo, 14 de outubro de 2007

Indiferença


Há pessoas a pensar convincentemente, de que estou a ouvir bem sem qualquer tipo de dificuldade na fala humana, puro engano! Dá que pensar… uma mera linguagem sonora é capaz de se perder num mar temível de inúmeros sons barulhentos (na maioria ambientais) á nossa volta com a visão distorcida dos pensamentos de outros.

È apenas no sossego do silêncio que sou capaz de distinguir as vogais, e algumas palavras soletradas, e, é verdade as pessoas não fazem ideia do tremendo esforço ao tentar memorizar a palavra dita diariamente.

Pois, para eles tudo parece ser simples e fácil, estão acostumados a ouvir desde o berço! È esta a diferença… e a ferida dolente que tinha, reabriu-se de novo a sangrar com muita ingenuidade e incompreensão de pessoas… que não tem mínima noção dos OBSTÀCULOS que vou enfrentado passo a passo.

Isso nem sequer me aflige, não devia dar-lhe muita importância, mas dói, lá isso dói.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Leque


Com o processador de fala ligado, lançei para a alcatifa do mundo, vozes irreconhecíveis e entorpecidas formaram um coro acanhado e desnorteado, sem controlo serpenteavam entre os fios do meu cabelo.
Encontrava-me numa circunferência política, os homens muito passivos e mulheres ambiciosas, todos com tendências intelectuais e eu mergulhei em pensamento. Desligada de tudo.

Não queria saber de que falavam, nada naquilo me chamava atenção. Parecia ter aquela inteligência fenomenal ou um parafuso a menos, camuflei-me simplesmente no meio de toda a gente que alguns me conheciam.

Ora cumprimentavam com um esboçar apressado, outros cientes da minha dificuldade em captar a fala humana explicaram-me prontamente, com todos os detalhes e ansiosos por me ouvirem. È um tipo de bondade que posso crer ainda neste mundo corrupto e cruel.

Dirigi á porta de saída, comecei a ouvir um som original, diferente e parei, aproximei como um gato que procura o rato, para o devorar. Que som seria aquele, suave, parecia ser o vento que ia e vinha...

Foi então que os meus olhos fixaram para a idosa sentada na cadeira, num canto fresco á sombra da janela, cansada dos quilómetros da vida, os cabelos brancos de velhice e as rugas montanhosas na face coloriam os seus olhos azuis, tão azuis, aquele belo azul cobria toda a beleza naquele corpo marcado pelas cicatrizes do passado.

Reparei, que ela segurava o leque de palha rico de cores em movimento, para a esquerda e direita, fechei as pestanas só para ter a certeza se era o som que perseguia, estremeci no suor da alegria e gritei interiormente. A sua visão centrada em mim, sorri-lhe, talvez contagiada ela retribuiu-me um riso envelhecido, e os olhos azuis dela beijaram os meus castanhos.

Sai de lá, triunfante!

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Aguaceiros


Hoje na hora de almoço dancei, abanando e abanando com o tombar da chuva no parapeito da janela aberta. Fiquei um pouco distante e reservada da existência humana á minha volta e gotas de água sucumbiam intensamente.

Fechei os olhos, escutando a melodia do céu aguaceiroso, foi como se abraçasse os pingos e as minhas feições sorrissem de prazer e o coração ficara macio, deliciosamente emocionado!

Mais do que nunca, a vontade em descer do prédio e molhar-me no meio das lágrimas cristalinas, sentir a vida da água no meu corpo fluindo em todos os poros.
Só não pude, pois tu Sun Melody não és á prova de água, mas sou uma afortunada em te ter, proporcionas-me belos timbres e contigo tenho sido feliz. [muito].