Com o processador de fala ligado, lançei para a alcatifa do mundo, vozes irreconhecíveis e entorpecidas formaram um coro acanhado e desnorteado, sem controlo serpenteavam entre os fios do meu cabelo.
Encontrava-me numa circunferência política, os homens muito passivos e mulheres ambiciosas, todos com tendências intelectuais e eu mergulhei em pensamento. Desligada de tudo.
Não queria saber de que falavam, nada naquilo me chamava atenção. Parecia ter aquela inteligência fenomenal ou um parafuso a menos, camuflei-me simplesmente no meio de toda a gente que alguns me conheciam.
Ora cumprimentavam com um esboçar apressado, outros cientes da minha dificuldade em captar a fala humana explicaram-me prontamente, com todos os detalhes e ansiosos por me ouvirem. È um tipo de bondade que posso crer ainda neste mundo corrupto e cruel.
Dirigi á porta de saída, comecei a ouvir um som original, diferente e parei, aproximei como um gato que procura o rato, para o devorar. Que som seria aquele, suave, parecia ser o vento que ia e vinha...
Foi então que os meus olhos fixaram para a idosa sentada na cadeira, num canto fresco á sombra da janela, cansada dos quilómetros da vida, os cabelos brancos de velhice e as rugas montanhosas na face coloriam os seus olhos azuis, tão azuis, aquele belo azul cobria toda a beleza naquele corpo marcado pelas cicatrizes do passado.
Reparei, que ela segurava o leque de palha rico de cores em movimento, para a esquerda e direita, fechei as pestanas só para ter a certeza se era o som que perseguia, estremeci no suor da alegria e gritei interiormente. A sua visão centrada em mim, sorri-lhe, talvez contagiada ela retribuiu-me um riso envelhecido, e os olhos azuis dela beijaram os meus castanhos.
Sai de lá, triunfante!