O início da Surdez

Fui muito desejada, fruto de um grande amor dos meus pais onde já dentro do ventre, era bastante calma e não dava tanto trabalho, especialmente sem ter aqueles típicos enjoos.
Desenvolvia magistralmente as peripécias sensoriais e motoras, com mais intensidade nos finais da gravidez.

Os meus pais costumavam assistir concertos musicais na Baía Seixalense, ou ligavam o rádio de casa, presenteava-os um verdadeiro bailando aquático!
Finalmente tinha chegado o momento de nascer, em pleno verão, muito caloroso até suavam pingas na ânsia de me terem nos braços. Contemplaram-me emocionados durante muito tempo, detalhe a detalhe, dialogando que nem uns apaixonados.

“Oh, como ela é linda”
“Tem a pele tão macia e rosada!”
“Sai á mãe”
“Olhos cinzentos? Serão castanhos?”
“Cabelos encaracolados como o pai!”
“Adoro estas bochechas!”

Não chorava, observava-os atentamente, ouvia-os curiosa. È sinal que a minha Surdez não vem de nascença.

Passando três dias, fui para o meu lar onde ninguém poderia imaginar que uma Deficiência Auditiva iria bater á porta dos meus dois anos e meio de idade! No momento fulcral do desenvolvimento da linguagem, cheguei a falar e pronunciar certas palavras mas deixara de aperceber a chegada do meu pai, dantes corria escutando a porta, ora escondendo-me na sala.
Cada vez que a minha mãe me chamava, não respondia ao seu chamamento, preocupada decidiu espreitar-me, avançou, chamou-me de novo, nada. Ao virar-me, apanhei um valente susto!

Após uma conversa, resolveram marcar uma consulta de Otorrinolaringologia em Alhos Vedros, o diagnóstico da audiometria foi de tal modo fortuito, deixando os meus pais abalados.

Sofria de uma Surdez Severa de causa não determinada, no esquerdo com 60 decibéis e no direito com 75 decibéis, dando uma previsão de que iria perder progressivamente mais de 30% o que veio confirmar 3 anos depois, com a conclusão final de uma Surdez Profunda acentuada.